VÍDEO: Ex-juiz da Lava-Jato é acusado de furtar garrafas de champanhe

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Dezoito de outubro, 19h39. Um homem de camiseta azul marinho e bermuda caminha pela seção de utensílios de cozinha de um supermercado em Blumenau quando é identificado pelas câmeras de vigilância. Menos de dois minutos depois, dá voltas em torno de uma gôndola de bebidas alcoólicas até parar em frente a ofertas de champanhe francês. Ele escolhe uma garrafa de Moët & Chandon, a 399 reais a unidade, e a coloca na sacola. Antes de chegar ao estacionamento é abordado por dois seguranças e obrigado a retornar. Em 2025, furtos representaram perdas totais de mais de 31% para o setor varejista, mas naquele sábado o estabelecimento estava preparado. O cliente pego no flagra era apontado como reincidente – a loja o acusa de já ter surrupiado outras garrafas – e também uma pessoa pública: o juiz federal Eduardo Appio, antigo responsável pelos processos da Operação Lava-Jato no Paraná e desafeto declarado do senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
Em uma sala de inspeção, Appio apresentou a nota fiscal das compras do dia, sem registro de pagamento da bebida. Constrangido, ainda tentou oferecer um cartão bancário para a quitação, mas era tarde demais. O episódio havia virado caso de polícia e um dos mais recentes constrangimentos que envolvem antigos ocupantes da 13ª Vara Federal de Curitiba. A Polícia Civil de Santa Catarina encaminhou ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) informações sobre o episódio e o boletim de ocorrência que detalha as circunstâncias registradas pelo supermercado. O entrevero gerou a abertura de um procedimento administrativo disciplinar, que, ao final, pode levar o magistrado a ser aposentador compulsoriamente. Esta, aliás, é a tendência de desfecho do caso, de acordo com interlocutores consultados por VEJA.
VEJA O VÍDEO DO JUIZ ACUSADO DE FURTAR CHAMPANHE:
Eduardo Appio nega tentativa de furto
O juiz nega a tentativa de furto, afirma que ao final pagou por três garrafas da bebida e diz que o caso foi “politizado” pelos policiais. “Não é coincidência isso tudo acontecer numa cidade onde todo mundo é Bolsonaro, onde todo mundo vota na direita, na extrema direita. Muita gente acha que eu sou uma espécie de representante da esquerda, o que não é verdade. O delegado, inclusive, é candidato a deputado pelo PL”, disse. “Esses vídeos foram manipulados, foram fraudados pela política de Santa Catarina, são fake news, não se respeitou a cadeia de custódia”, completou. Procurado, o delegado não quis se pronunciar.
Sucessor do principal juiz da Lava-Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio foi afastado de suas funções em uma vara previdenciária depois da acusação de furto de champanhe e responde a um procedimento administrativo por violação da regra segundo a qual juízes devem “manter conduta irrepreensível na vida pública e particular”. Em 2023 ele já havia deixado a antiga cadeira de Moro após uma primeira polêmica – se passar por outra pessoa para apurar a existência de um “sócio oculto” do ex-magistrado – mas conseguiu fazer um acordo e se livrou de maiores consequências.
