Jovem perde braço e perna em acidente na GO-040; família alega omissão de socorro
O jovem Luiz Gustavo Alves Faria, de 18 anos, teve a perna direita e um braço amputados após um acidente de trânsito que ocorreu na manhã de sábado (27), no km 70 da rodovia GO-040, em um trecho rural do município de Cromínia. Segundo a mãe do jovem, Ediane Alves de Menezes, ele seguia de motocicleta pelo acostamento da rodovia, trajeto que fazia quase todos os dias há anos, entre a casa da família e a propriedade rural onde cuidava dos animais. No momento do fato, ele teria sido atingido pelas costas por um carro, que trafegava no mesmo sentido.
“A motinha dele era bem velhinha, ele estava no encostamento. O carro bateu nele por trás. Quando bateu, a moto rodou, e meu filho e a moto foram para cima do carro. Quebrou o vidro, amassou a lateral, e meu filho caiu rolando no chão”, relatou a mãe. Luiz permanece internado em estado crítico na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO).
Ainda conforme Ediane, após a colisão, o motorista não prestou nenhum tipo de socorro. Luiz teria ficado consciente, caído no chão, gritando por ajuda, com fraturas nos braços e nas pernas. “Meu filho estava no chão, todo quebrado, gritando por socorro. Ele não foi nem lá ver como meu filho estava. Ligou para outra pessoa, essa pessoa buscou ele, e ele fugiu do local”, afirmou.
A mãe conta que, durante o intervalo em que o motorista deixou o local, Luiz ficou sozinho na rodovia, e que depois de algum tempo pessoas que passavam pela estrada pararam para prestar ajuda e o levaram ao hospital mais próximo.
De acordo com a família, Luiz foi inicialmente levado ao Hospital Professor Jamil, onde precisou ser entubado, pois não resistiu ao trajeto direto até Goiânia. Em seguida, foi transferido ao HUGO, já com perda intensa de sangue. “Ele perdeu praticamente todo o sangue do corpo. A destruição foi grande demais. Por ficar tanto tempo no chão e sem socorro, tiveram que amputar o braço e a perna”, relatou a mãe, emocionada.
Ediane também questiona o registro do boletim de ocorrência e a forma como a perícia foi conduzida. Segundo ela, no documento consta a informação de que Luiz teria invadido a pista, o que a família nega. “No boletim está dizendo que foi meu filho que invadiu a pista, mas isso não aconteceu. Ele estava no acostamento”, afirmou.
A mãe ainda alega que o veículo envolvido no acidente seria um carro de autoescola, com placa vermelha, e que dentro do automóvel havia latas de energético espalhadas, o que levanta suspeitas sobre as condições do motorista no momento da colisão. “Dentro do carro tinha latinha de energético, baralho. Tenho certeza que ele não dormiu naquela noite”, disse.
Outro ponto destacado pela família é que, segundo Ediane, uma pessoa se apresentou à polícia e realizou o teste do bafômetro, e não o motorista que teria atropelado Luiz. Além disso, ela afirma que o homem que se apresentou afirmou que era responsável pelo carro e que ia resumir a responsabilidade. “Até agora ninguém me procurou, nem eu nem minha família”, relatou. Um vídeo gravado no local do acidente por um tio do jovem mostra o carro e o homem que Ediane menciona.
Sem recursos financeiros e sem conhecer pessoas em Goiânia, Ediane e o marido precisaram de apoio para permanecer na capital acompanhando o filho internado. Segundo ela, o prefeito de Cromínia custeou quatro diárias em um hotel próximo ao hospital, para que a família pudesse permanecer perto de Luiz. “Eu estou aqui no hospital, sem chão, sem condição nenhuma. Meu marido trabalha por diária. A gente não tem como pagar hotel, comida, nada”, contou.
Jovem querido e trabalhador
Muito abalada, Ediane descreve Luiz Gustavo como um jovem trabalhador, querido e respeitado pela comunidade de Cromínia. “Meu filho é um menino de bem. Da escola para o serviço, do serviço para casa. Não é de bagunça, não é de boteco. É humilde, trabalhador, estudioso. Ele ama criação, tem porco, galinha, ia cuidar dos animais naquele dia. Pode perguntar em Cromínia quem é o Luiz Gustavo, todo mundo conhece”, afirmou.
Ao final do relato, a mãe faz um apelo por justiça. “Eu quero justiça. Eu não vou desistir da justiça. Meu filho perdeu uma perna e um braço porque não teve socorro. É uma mãe com o coração na mão, sem chão, pedindo justiça pela vida do filho”, desabafou.
Registro da ocorrência
O Registro de Atendimento Integrado (RAI) da Secretaria de Segurança Pública de Goiás apresenta uma versão diferente dos fatos. Segundo a Polícia Militar Rodoviária, o acidente envolveu um Fiat Mobi, conduzido por Higor de Freitas Santos, de 23 anos, e a motocicleta pilotada por Luiz Gustavo.
Conforme o boletim, o motorista do carro permaneceu no local, não sofreu ferimentos e foi submetido ao teste do bafômetro, que apontou resultado negativo para ingestão de álcool. A versão registrada indica que Luiz Gustavo trafegava em zigue-zague e teria invadido a faixa contrária, colidindo lateralmente com o automóvel, apesar da tentativa de desvio por parte do condutor.
A motocicleta, que não possuía placa e apresentava numeração suprimida, foi apreendida e encaminhada ao pátio por determinação da Polícia Civil. O carro teve danos superficiais e foi liberado no local. A perícia criminal esteve na rodovia e realizou os procedimentos técnicos.
O caso foi registrado como lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, conforme o Código de Trânsito Brasileiro.
