Evidência mais antiga de fogo feito por humanos é encontrada na Inglaterra
Pesquisadores identificaram indícios de produção deliberada de fogo em um antigo sítio arqueológico localizado em Barnham, no condado de Suffolk, no leste da Inglaterra. O local era um antigo poço de extração de argila que foi ocupado por grupos humanos há cerca de 415 mil anos. A descoberta foi publicada na revista Nature.
No local, os cientistas encontraram sedimentos queimados, machados de pedra lascados pelo calor e fragmentos de pirita, um mineral capaz de produzir faíscas quando golpeado contra outra superfície. O conjunto de vestígios indica que o fogo não apenas existia ali, mas era produzido e mantido de forma intencional.
Até agora, as evidências mais antigas de fabricação deliberada de fogo por humanos datavam de cerca de 50 mil anos atrás. O novo achado antecipa esse marco em aproximadamente 350 mil anos.

Como os cientistas sabem que o fogo não foi natural?
Para confirmar que os vestígios não foram deixados por um incêndio natural, os pesquisadores realizaram análises químicas, microscópicas e magnéticas nos sedimentos do solo. Os testes indicaram que a argila foi exposta repetidamente a temperaturas superiores a 700 °C, típicas de fogueiras mantidas por humanos, e não de queimadas provocadas por raios.
Outro indício decisivo foi a presença da pirita. Esse mineral é raro na região de Barnham, o que sugere que foi levado até o local de forma intencional.
Segundo os autores do estudo, essa combinação de fatores aponta para um controle ativo do fogo por esses grupos humanos, e não apenas para o aproveitamento ocasional de incêndios naturais.

Por que essa descoberta é tão importante?
O domínio do fogo é considerado um dos marcos mais importantes da evolução humana. Ele permitiu aquecer ambientes, afastar predadores, ampliar o período de atividade durante a noite e, principalmente, cozinhar alimentos. O cozimento facilita a digestão, amplia a variedade de alimentos disponíveis e libera mais energia para o corpo.
Essa mudança alimentar é apontada como um dos fatores que contribuíram para o crescimento do cérebro ao longo da evolução. Além disso, o fogo favoreceu a convivência em grupo, a divisão de tarefas e o desenvolvimento de novas tecnologias.
Quem eram esses humanos que já dominavam o fogo?
De acordo com os pesquisadores, os habitantes do sítio de Barnham provavelmente pertenciam a uma população ancestral dos neandertais. Fósseis e ferramentas da mesma época encontrados na Inglaterra e na Espanha reforçam essa hipótese.
Esses grupos já demonstravam comportamentos considerados complexos, como a escolha de materiais específicos para determinadas funções; no caso, a pirita para a produção de faíscas.
Além disso, encontrar esse tipo de evidência é muito raro, pois vestígios de fogo são difíceis de se preservar ao longo de centenas de milhares de anos. Cinzas, carvão e restos orgânicos costumam ser levados pela água, pelo vento ou destruídos pela ação do tempo. No caso de Barnham, a preservação foi considerada excepcional.
