Doença da fama: “encolhimento” de Ariana Grande, morte de Rob Reiner

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Marilyn Monroe e Kurt Cobain se suicidaram; John Lennon e Selena foram assassinados; James Dean morreu num acidente de carro com apenas 24 anos; a droga levou Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix e River Phoenix, e o álcool envenenou Amy Winehouse aos 27 anos. É impossível não pensar nessa lista vendo dois casos chocantes do momento: a quantidade de mulheres famosas que simplesmente “desaparecem”, como a cada vez mais frágil Ariana Grande, e o duplo assassinato do ator e diretor Rob Reiner e sua mulher, Michelle Singer, degolados pelo próprio filho
Mesmo pelos padrões de Hollywood, o violento homicídio é um fato estarrecedor, ao qual nem sequer se aplica o clichê da frase “daria um filme”. Nem nas piores produções de terror o tabu profundamente arraigado do matricídio e do patricídio é quebrado.
Mas, como nos filmes, a impressão de que alguma coisa ia muito mal foi testemunhada por figuras conhecidas do show business, convidadas para uma festa de fim de ano pelo humorista e ex-apresentador de um conhecido programa de entrevistas, Conan O’Brien.
A festa foi no sábado e Nick Reiner, que não estava na lista, mas acabou sendo incluído a pedido do pai, preocupado em deixá-lo sozinho em meio a surtos de fúria. Circulou entre os convidados, incomodando muita gente, incluindo a atriz Jane Fonda, com três perguntas inconvenientes: “Qual é seu nome? Qual é seu sobrenome? Você é famoso?”.
O dono da casa, que ironicamente estava dando a festa para deixar para trás um ano ruim, incluindo o grande incêndio de Los Angeles que o obrigou a ser evacuado de casa, tal como outros nomes do mundo do show business, acabou pedindo que se retirasse. Pai e filho brigaram feio.
SEQUESTRADO ENTRE HIPPIES
Em lugar de mais um episódio em que o filho, drogado a ponto de ter ido morar na rua a certa altura de seus 32 anos, constrangia os pais, o caso terminou no esfaqueamento de Rob e Michelle, alvos de múltiplos golpes e de degolamento. Antes de morrer, a mãe apontou Nick como o culpado. Em lugar de irem jantar com Barack e Michelle Obama no domingo, como estava combinado, o casal assassinado foi para o necrotério.
O caso, obviamente, tem aspectos específicos, mas se enquadra na categoria geral da “maldição da fama”, uma espécie de síndrome de distúrbios emocionais que afeta não apenas celebridades, mas também seus filhos, colocados na posição de cavar um lugar à sombra dos pais famosos e conviver eternamente com a ideia de que são “nepobabies”, uma expressão nova para um fato antigo, o favorecimento aos descendentes de figuras de destaque.
Um dos casos mais famosos aconteceu quando um dos filhos de Marlon Brando, Christian, matou o namorado da irmã por parte de pai, Cheyenne. Christian até tentou ser ator, mas como encarar a profissão quando se é filho de Marlon Brando? E ainda por cima com uma infância infernal, em que o pai e a mãe divorciados se enfrentaram numa das piores disputas por guarda de menor da história do cinema (a mãe sequestrou o menino e tentou escondê-lo com um grupo de hippies da Califórnia, mas um detetive contratado por Marlon Brando o encontrou).
Depois de um casamento que durou duas semanas com Deborah Presley, suposta filha natural de Elvis Presley, Christian Brando acabou morrendo de pneumonia aos 49 anos.
TEMPORADA CANCELADA
São histórias que parecem tornar irrelevante o caso de Ariana Grande, cuja magreza evoca uma reação unânime: está sofrendo de algum distúrbio alimentar. Ariana é naturalmente esguia, com ossatura delicada e tipo frágil como uma bonequinha de porcelana, mas a magreza atual não tem nada de natural.
Ela também está no centro de ondas de boatos, inclusive sobre um relacionamento com Cynthia Erivo, alimentado pela linguagem corporal durante a temporada de divulgação de Wicked: Parte 2. Quando Cynthia pulou como uma feroz pantera negra sobre o fã idiota que havia agarrado Ariana, a reação rápida e a atitude protetora aumentaram ainda mais a boataria. A temporada de divulgação acabou cancelada.
É errado fazer diagnósticos à distância, sobre pessoas cuja ficha médica não é conhecida, mas são de domínio público os efeitos da pressão pelo emagrecimento das mulheres do mundo do show business, inclusive as que começaram a carreira precocemente, ainda crianças ou adolescentes, como Ariana, com sua garganta angelical, capaz de atingir o registro vocal mais agudo da voz humana.
Distúrbios alimentares são uma doença mental e devem ser tratados com extrema seriedade, inclusive porque têm um componente social muito forte e hoje são incentivados pelos casos espantosos de mulheres famosas que perdem dezenas de quilos e desfilam seus novos corpos com orgulho. Inclusive quando não parecem nada saudáveis, como Kelly Osborne, apresentadora de programas de televisão e filha do metaleiro Ozzy Osborne, morto em julho passado.
Kelly exibe o corpo típico do emagrecimento não saudável: cabeça desproporcional ao corpo, ossos que parecem furar a pele dos ombros e peito encovado. Ela emagreceu 38 quilos com cirurgia de redução do estômago e outros tratamentos, incluindo medicação. A mãe dela, Sharon Osborne, praticamente virou outra pessoa com o Ozempic.
Outra transformação impressionante é da comediante Amy Schumer, com um histórico de luta de uma vida inteira contra a balança. Ela apagou das redes sociais todas as “fotos de gorda”. É como se um pedaço de sua vida desaparecesse. Com o emagrecimento, anunciou também o fim do casamento.
Os remédios para emagrecer que explodiram no mundo são um espetacular avanço no combate à diabetes e aos males do excesso de peso, mas é óbvio que podem induzir a um culto nada saudável à magreza excessiva, sem nenhuma relação com as pessoas que são naturalmente magras.
Em 1983, a cantora Karen Carpenter morreu aos 32 anos. Pesava 35 quilos. A integrante do grupo The Carpenters foi um dos primeiros casos de ampla divulgação de anorexia, até então um distúrbio pouco conhecido.
FORÇAS INCONTROLÁVEIS
Distúrbios alimentares são diferentes de quem tem “mania de regime” e agora se vê com um medicamento que parece milagroso, incomparável com tudo o que existiu antes para cortar os quilos a mais que praticamente todas as mulheres enxergam nos próprios corpos. É bom e saudável se cuidar, é doentio se tornar obcecado com isso. Difícil é estabelecer as fronteiras.
As pressões sociais pelo emagrecimento são forças praticamente incontroláveis, só contrabalançadas por uma vida interior sólida e uma autoimagem capaz de se sustentar em pé sem o julgamento dos outros.
Imaginem como essas forças se concentram em quem vive na frente das câmeras e tem cada punhado de gramas extras controlado tanto por críticos quanto por fãs. Até mulheres lindas e naturalmente magras que entraram para a realeza desencadeiam suspeitas de anorexia, como Kate, a princesa de Gales, e Letizia, a rainha consorte da Espanha.
A “doença da fama” se manifesta em regimes brutais para emagrecer, uso descontrolado de drogas, comportamentos autodestrutivos. Num caso extremo, sem antecedentes, contribui para os distúrbios mentais graves que levaram um filho a assassinar a mãe e o pai. Nem em Hollywood parece possível.
