Como grandes restaurantes reinventam o delivery

Popularizado durante a pandemia, o delivery transcendeu sua função inicial de medida emergencial para se tornar um pilar estratégico da operação de restaurantes consagrados. A adaptação exigiu investimentos em infraestrutura, cardápio e experiência do cliente, convertendo um canal de urgência em um vetor sólido de crescimento.
A primeira grande mudança foi na estrutura física. Para preservar a qualidade do serviço no salão, cozinhas dedicadas exclusivamente às entregas tornaram-se comuns. “Montamos uma dark kitchen em Botafogo, voltada apenas para o delivery. E, em nossa unidade da Barra da Tijuca, mantemos cozinhas separadas para o atendimento presencial e para as entregas”, explica Sérgio Nogueira, gerente de delivery e inteligência do Gurumê.
As embalagens, antes muitas vezes limitadas a amontoados de plástico envoltos em fita adesiva, transformaram-se em elementos centrais da experiência. A preocupação com funcionalidade e identidade visual hoje é unânime. “Atualmente, há um cuidado enorme com a apresentação do prato na casa do cliente. Só utilizamos embalagens sustentáveis e abolimos completamente os grampos”, afirma Sabrina Marino, head de e-commerce do Gula Gula, onde o delivery já responde por metade do faturamento total.
Na tentativa de transpor a atmosfera do restaurante para a residência do cliente, chefs como Rodrigo Oliveira, do Mocotó, em São Paulo, passaram a cuidar de cada detalhe. Juntamente com a refeição, são enviados os mesmos molhos disponíveis nas mesas do estabelecimento. A entrega ainda é acompanhada por uma sugestão de playlist para curtir enquanto se saboreia um baião de dois ou um joelho de porco com cuscuz. “Gestos simples elevam significativamente a experiência”, destaca Rodrigo.
Um novo elemento que ganhou força nesse cenário é a atuação dos influenciadores digitais. Agora, contratados não apenas para promover o restaurante, mas especificamente o serviço de entrega, eles produzem fotos atrativas em ambiente doméstico e as compartilham com seu público. “Além de recebê-los no salão, também enviamos pedidos via delivery para que possam mostrar as embalagens, a apresentação e a experiência completa em casa”, explica Mariana Telésforo, do marketing do Gurumê.
Apesar do crescimento expressivo das entregas, o atendimento presencial não mostra sinais de perda de relevância. Sabrina, que inicialmente era resistente ao delivery, hoje tem uma visão integrada: “O salão carrega uma dimensão afetiva e social única, e por isso sempre terá o seu lugar”, conclui.
