O recado político dos bispos brasileiros e da igreja católica contra a extrema direita
A mensagem de Ano-Novo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vai além do rito pastoral que tradicionalmente marca este período. Com um balanço crítico de 2025, a principal instância da Igreja Católica no país emitiu um sinal categórico de distanciamento em relação à agenda que estrutura a atuação da extrema-direita bolsonarista.
Ao listar decisões legislativas como motivos de preocupação – das quais a flexibilização da Lei da Ficha Limpa, a aprovação do marco temporal das terras indígenas e as mudanças no licenciamento ambiental são exemplos eloquentes –, a CNBB faz uma condenação inequívoca dos rumos tomados pelo Parlamento.
A carta associa tais escolhas ao enfraquecimento da convivência democrática e à erosão da confiança nas instituições – elementos que marcaram o ambiente político brasileiro nos últimos anos.
E as considerações não se restringem às leis aprovadas: o documento menciona a “perda de decoro” e a “falta de responsabilidade” de autoridades, com referência explícita ao Congresso Nacional. O alvo é um padrão de comportamento que normalizou discursos de ódio, manipulações da verdade e radicalismos ideológicos como instrumentos de ação política.
A CNBB retoma, portanto, uma posição histórica de defesa do Estado Democrático de Direito e se afasta das narrativas que relativizam princípios constitucionais, atacam o sistema de freios e contrapesos e transformam a política em uma arena de conflagração permanente.
O texto também preserva a coerência doutrinária da Igreja, a começar pela reafirmação da oposição à legalização do aborto e da defesa da vida desde a concepção. Ou seja, a CNBB faz um gesto político específico, centrado na análise de um projeto de poder e a seus efeitos sobre a sociedade, sem alinhamento automático a uma agenda progressista ampla.
