1.000 cidades conectadas: a arrancada da TIM no 5G
Para a veterinária Thays Menezes, tratar dos animais de estimação não é a atividade mais demandante nas unidades da Aunimali Pet que administra nos bairros de Calhau e Olho d’Água, em São Luís (MA). Hoje, pelo menos metade do trabalho é postar as fotos dos bichinhos nas redes sociais, além de confortar os donos. “Mostro as meninas fazendo o penteado, depois divulgo. Os clientes adoram, é como um salão de beleza. Se não posto, eles reclamam”, diz. Thays é um exemplo da mudança de hábitos dos brasileiros, que usam cada vez mais as redes sociais como ferramenta de trabalho, além de lazer. Também evidencia a importância da expansão do acesso à internet em todo o território nacional. A empresária afirma que só consegue fazer a divulgação porque a operadora de telefonia móvel TIM passou a oferecer a tecnologia 5G em sua região. Quando cai a rede de banda larga das suas pet shops, fornecida por outra operadora, Thays usa os celulares para rotear e recuperar a conexão.
O Brasil entrou atrasado na corrida da 5G, regulamentando a tecnologia apenas em 2021, mas está avançando mais rapidamente que outros países. Em três anos, 65% da população — 74% na área urbana — já é atendida pela rede que permite conexões mais rápidas e estáveis, segundo a Anatel, a agência federal que supervisiona o setor. A TIM lidera essa corrida. Foi a primeira a bater a marca de 1 000 cidades atendidas e conectar 100% dos bairros nas 27 capitais. A operadora, cujo controle é italiano, antecipou em quase dois anos as metas da Anatel, ligando todas as cidades acima de 100 000 habitantes, o que seria uma obrigação apenas em 2027.
A TIM apostou na 5G para se destacar no concorrido mercado brasileiro. É a mesma estratégia que já havia adotado ao implantar a rede 4G, segmento em que já é líder em cobertura nacional. Para Álvaro Martins, professor de tecnologia da informação da Fundação Getulio Vargas, ter a maior capilaridade faz parte da estratégia da TIM para se diferenciar das outras operadoras no país. A Claro rivaliza com a italiana em número de domicílios cobertos pela 5G e a Vivo lidera em assinantes. “A TIM optou por liderar em número de municípios, avançando sobre cidades pequenas e médias e sobre alguns destinos específicos”, diz Martins.

Um dos marcos da operadora foi a implantação da rede 5G em Fernando de Noronha (PE). Outro foi a implantação do projeto-piloto no polo automotivo da Stellantis em Goiana (PE), primeira fábrica do setor no Brasil integrada com base nessa tecnologia, o que antecipou uma das promessas da 5G: viabilizar a chamada indústria 4.0, com a conexão de máquinas e sistemas digitais.
Uma das vantagens da 5G é exatamente o desempenho superior em relação à tecnologia anterior, expresso por uma combinação de maior velocidade — é até 100 vezes mais rápida — e latência mais baixa, o que gera uma resposta mais rápida do sinal. A Porsche Cup ilustra bem seu potencial. No encerramento da temporada, em novembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, os dados de telemetria e as imagens em alta definição dos veículos a mais de 260 quilômetros por hora foram acompanhados on-line pelos técnicos e engenheiros nos boxes. A prova de automobilismo também foi um exemplo da personalização dos serviços. A operadora introduziu o chamado network slicing — fatiamento da rede — da 5G em rede pública.
O foco na capilaridade também viabilizou que algumas empresas ganhassem produtividade, como atesta Misael Hiat, diretor administrativo do Grupo Perboni FLV, voltado para a distribuição atacadista de itens como frutas, com uma frota própria de vinte caminhões. A empresa está baseada em Goiás, mas atua em diversos estados. “Todos os veículos são equipados com câmeras e rastreador conectados pela rede 5G”, diz Hiat. “Chegar ao cliente é uma tarefa complexa, que exige o uso de segurança embarcada.” A companhia fez um estudo de rotas para escolher qual operadora poderia atender às suas necessidades de monitoramento, e por isso optou pela TIM. “A 5G aumentou a capacidade de resposta e de comunicação e reduziu em 25% o tempo de processamento da informação”, afirma Hiat. Além de permitir o acompanhamento em tempo real dos motoristas e dos veículos, os sistemas financeiro e de estoque também são conectados. “Se o motorista sai da rota-padrão, recebo essa informação na hora.”

Segundo a TIM, o volume de dados na rede 5G cresceu 50% no último ano. Cerca de 80% da utilização é voltada para o consumo de vídeos. Isso pode ser comprovado pelos grandes eventos. No último Rock in Rio, realizado em setembro de 2024, os clientes da TIM consumiram 185 terabytes de dados, o equivalente a assistir a vídeos em HD por mais de sessenta anos sem parar. Metade disso foi provida pela rede 5G. No Maracanã, o primeiro estádio 5G do Brasil, o tráfego de dados da operadora triplicou após a implantação da nova rede, com mais de 70% dos usuários navegando pela 5G. Para chegar a esses números, a TIM tem investido anualmente 4,5 bilhões de reais e patrocina um fundo de inovação voltado para startups que já consumiu 50 milhões de dólares. Neste ano, está direcionando 1 bilhão de reais para dobrar a cobertura no interior de São Paulo, atingindo mais de 200 novos municípios, e 300 milhões de reais para ampliar a presença em cidades mineiras, de 57 para 131.
O Brasil lidera a expansão da 5G na América Latina, onde apenas 30% da população é atendida, segundo o mais recente levantamento Mobility Report, elaborado pela Ericsson. O país também é o mais avançado em tecnologia. Fernando Moulin, especialista em transformação digital e professor da ESPM, afirma que a regulamentação no Brasil privilegiou a instalação das chamadas estações rádio base (ERBs) standalone, que não compartilham a infraestrutura da 4G e permitem uma maior velocidade. “As três grandes operadoras brasileiras estão entre as mais rápidas do mundo”, diz.
Agora, o grande desafio é expandir a implantação da 5G nas áreas rurais. Dadas as dimensões continentais do Brasil, essa é uma tarefa cara, que precisa de um alto investimento. Isso porque a rede 5G demanda um número muito maior de antenas do que a tecnologia 4G. “O agronegócio exige uma solução integrada, com mais antenas e com mais transmissores”, afirma Moulin. Segundo o especialista, a conexão das áreas rurais ainda levará alguns anos. “A agricultura de precisão, com tecnologia embarcada, é a próxima fronteira.” A TIM afirma que investe nos novos recursos e já cobre no campo 23,5 milhões de hectares com sua rede 4G. Um dos obstáculos para a expansão da 5G era a necessidade de mudança na legislação local para a instalação de mais antenas. Mas isso deixou de ser um problema à medida que os municípios perceberam a vantagem da nova tecnologia. “Essa barreira já não é tão relevante quanto foi”, diz Moulin. “O Brasil vai demorar para atingir o mesmo patamar de países mais adiantados no uso da 5G como a China, porque ainda está recuperando o tempo perdido.” A boa notícia é que o ritmo está cada vez mais acelerado.
Publicado em VEJA, dezembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 21
