MP denuncia PMs e advogada suspeitos de agiotagem e tortura em Luziânia
O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou, nesta semana, três policiais militares e uma advogada suspeitos de integrarem uma organização criminosa armada especializada em agiotagem, extorsões, torturas e lavagem de dinheiro, em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. No total, nove pessoas foram denunciadas pelo órgão.
O promotor de Justiça Juan Borges de Abreu, titular da 99ª Promotoria de Justiça de Goiânia, apresentou a denúncia, com agravantes de liderança e emprego de armas; extorsão majorada; tortura com imposição de intenso sofrimento físico e psicológico; usura (agiotagem) mediante cobrança de juros abusivos e ilegais; lavagem de dinheiro; e posse, porte e comércio ilegal de armas e munições, inclusive de uso restrito. À época da operação, os policiais apreenderam armas de fogo, munições de diversos calibres (inclusive de uso restrito), aparelhos celulares e documentos, além das filmagens.
Conforme o MP, desde 2023 o grupo emprestava dinheiro com juros exorbitantes, entre 10% e 30% ao mês, e, quando havia inadimplência, as vítimas eram ameaçadas e sofriam agressões, além de sequestros e sessões de tortura. Os atos filmados eram uma forma de intimidar outros devedores. O órgão informou, ainda, que, “para ocultar a origem ilícita dos valores, a organização utilizava contas de terceiros, pessoas interpostas, empresa de fachada, movimentações fracionadas e transferências sucessivas”.
No fim de novembro, a Polícia Civil prendeu os policiais militares e a advogada Tatiane Meirelles, além de outras pessoas que participavam das ações criminosas. Os próprios investigados gravavam os atos. O sargento da Polícia Militar (PM) de Goiás, Hebert Póvoa, foi um dos detidos durante a ação.
Em 2022, ele disputou como vereador de Luziânia pelo PL. Conforme a Polícia Civil, o PM era o líder do grupo. Em um vídeo gravado por ele mesmo, o agente está dentro da casa de uma mulher que teria contraído uma dívida com a quadrilha. Ele aterroriza a vítima.
Com arma na mão e diante de uma vítima amedrontada, ele dá tapas no rosto dela, a chama de “vagabunda” e “piranha”, além de a ameaçar. Ele afirma que ela pagaria caro, enquanto a mulher tenta dizer que não tinha recebido nenhum dinheiro.
Neste momento, o policial toma o celular dela, que implora pelo aparelho e justifica que precisa dele para trabalhar. Em seguida, a devedora pede que o sargento confira o armário para mostrar que não conseguiu comprar nem o básico para a filha dela. O vídeo, divulgado pelo Metrópoles, é parte das provas reunidas durante a operação.
Já em um dos vídeos divulgados pela TV Anhanguera, em 1º de dezembro, a advogada Tatiane Meirelles aparece orando para o dinheiro conseguido de forma ilegal. “Agradecemos, Senhor, pela prosperidade que reina nesse lar. Te pedimos, Pai amado, que cada pessoa que receber esse dinheiro, que ela tenha gratidão, Pai.”
Organização
Além de Hebert, os PMs José Ronan Ferreira Lustosa e Miguel Roberto Mendonça ajudavam nas cobranças. Os empresários que financiavam o esquema eram José Lindolfo Meirelles e os irmãos Daniel Alpha Lopes e Edson Alpha.
Também chefe do esquema e responsável pelo apoio jurídico, está a advogada Tatiane Meirelles. Casada com o sargento Póvoa, ela foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO de Luziânia. A mulher, inclusive, aparece em um vídeo agredindo um homem com um taco de beisebol ao lado do marido.
Desde outubro do ano passado a Polícia Civil investiga o caso. Durante a operação recente, os agentes apreenderam quatro celulares na casa do casal, quatro armas quatro simulacros de pistola, um taco de beisebol, uma máquina de cartão de crédito, talões de cheque e cerca de R$ 22 mil.
Conforme a investigação, o grupo teria movimentado mais de R$ 7 milhões em dois anos de atividade ilegal. A apuração também apontou que a advogada, além de participar pessoalmente das cobranças, dava suporte jurídico à quadrilha.
Os PMs estão presos no presídio militar de Goiânia. Tatiane está detida na unidade prisional de Luziânia e três empresários também estão no município, na CPP. Todos os militares são lotados no quartel de Luziânia.
Em nota a Polícia Militar informou que os PMs foram afastados, que está colaborando e que os crimes foram cometidos fora do ambiente de trabalho. A Polícia Civil atua na identificação de outras vítimas. A reportagem do Mais Goiás não conseguiu contato com as defesas dos três PMs e da advogada, mas o espaço está aberto para pronunciamento.
