Greve geral obriga Louvre a fechar as portas por tempo indeterminado: ‘Roubo trouxe tudo à tona’

O Museu do Louvre fechou as portas nesta segunda-feira, 15, devido a uma greve geral. Os funcionários da instituição, um dos principais pontos turísticos de Paris, demandam reformas urgentes e aumento do efetivo. O protesto também é contra a alta do preço dos ingressos para a maioria dos visitantes de fora da União Europeia (UE), incluindo turistas britânicos e americanos.
“Os funcionários sentem hoje que são o último bastião antes do colapso”, afirmaram os sindicatos CGT, CFDT e Sud em comunicado.
O maior museu de arte do mundo pode enfrentar dias de fechamento parcial ou total numa época do ano de pico no turismo. Trata-se de um momento delicado para o Louvre, que teve de lidar com problemas em sequência: o roubo de joias estimadas em 88 milhões de euros (mais de R$ 550 milhões) durante um assalto à luz do dia em outubro; um vazamento de água que danificou de 300 a 400 livros e documentos no departamento egípcio; e o fechamento uma galeria com nove salas contendo cerâmica da Grécia Antiga por preocupações estruturais.
Os sindicatos denunciam a decisão do Louvre de aumentar em 45% o preço dos ingressos — passando para € 32 (cerca de R$ 203) — para visitantes de fora do Espaço Econômico Europeu para angariar o valor necessário para reformas. A maioria dos turistas que passam pelo local vêm de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e China. Ou seja, os principais visitantes serão fortemente impactados pela medida, que entra em vigor em janeiro.
“Consideramos isso uma discriminação inaceitável”, disse Christian Galani, um representante sindical da CGT, ao jornal britânico The Guardian. “Pior ainda, esses visitantes teriam que pagar mais para ver um museu em ruínas, onde não podem acessar toda a coleção porque temos uma falta crônica de funcionários e as salas são fechadas com frequência.”
“Isso vai contra a universalidade da cultura e a ideia de igualdade de acesso”, acrescentou. “Por exemplo, isso afetará os turistas britânicos, mas se eu for ao Museu Britânico, a entrada é gratuita.”
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‘Anos de falhas acumuladas’
Além disso, Galani definiu como um “escândalo absoluto” obrigar pessoas de determinadas nacionalidades a pagar por “anos de falhas acumuladas” em museu com peças de todo o mundo. Os sindicatos também estão preocupados com a redução do quadro de funcionários e a consequente piora das condições de trabalho, já que 200 postos foram cortados desde 2015, muitos deles na área de segurança.
“Estamos tão exasperados; esta é a única maneira que nos resta de sermos ouvidos”, continuou Galani, que trabalha na sala de controle de segurança à noite no Louvre. “Os problemas se acumularam ao longo dos anos e o roubo trouxe tudo à tona. Houve negligência tanto na reforma do prédio quanto nas medidas de segurança para proteger o acervo.”
Falhas no sistema de segurança do Louvre deram à quadrilha de ladrões responsável pelo roubo de joias da coroa francesa uma vantagem de 30 segundos sobre a polícia, apontou uma investigação do Ministério da Cultura da França divulgada na última quarta-feira, 10. Segundo o chefe das investigações, as imagens das câmeras de segurança eram enviadas para uma sala de controle central e uma sala de controle de zona. Porém, elas não foram vistas em tempo real devido à falta de telas para expor os registros simultaneamente.
Há quase dois meses, quatro ladrões invadiram a Sala de Apolo, famosa galeria que abriga um amplo acervo de joias da coroa francesa, roubando oito peças estimadas em 88 milhões de euros (mais de R$ 562 milhões). A ousadia do ato, somada à velocidade do assalto — tudo ocorreu em sete minutos — fez com que o episódio fosse rapidamente rotulado como “o roubo do século”.
Um dos museus mais conhecidos do planeta, o Louvre é lar de 500 mil obras de arte, 38 mil delas em exposição neste momento. Em 2023, ele recebeu quase 9 milhões de visitantes (cerca de 30 mil por dia) e conta com 2.200 funcionários para manter sua estrutura em funcionamento.
